O rápido desenvolvimento da China para uma economia de mercado oferece as maiores oportunidades de negócio e investimento. O seu ambiente dinâmico coloca desafios às empresas estrangeiras com interesses comerciais na região. A nossa força reside na sua compreensão e capacidade de lidar com esses desafios.

A China tem sido um dos principais investidores externos em Portugal, com um investimento acumulado de 1,2 mil milhões de euros até final do ano passado.

Depois de crescer a taxas superiores a 10% entre 2003 e 2012, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês avançou somente 6,9% em 2015. O resultado, o pior desde 1990, veio dentro da meta do governo, mas colocou no radar os sérios problemas do país como, por exemplo, a distribuição desigual da renda, uso excessivo de recursos naturais, grande excedente de imóveis vazios, alto endividamento das empresas, falta de transparência do governo e envelhecimento da população – fator que levou o Partido Comunista a acabar com a política do filho único.

Porém, embora a economia chinesa esteja em franco processo de desaceleração, o mercado consumidor não para de aumentar, o que representa ótima oportunidade de negócios para quem souber traçar a estratégia correta e investir no país.

Segundo informe elaborado pelo Credit Suisse, atualmente 109 milhões de pessoas compõem a classe média chinesa e têm uma renda entre US$ 50 mil e US$ 500 mil ao ano. A população do gigante asiático está em torno de 1,3 bilhão de habitantes. Apesar da ampla desigualdade social, a China possui hoje a maior classe média do mundo e encontra-se à frente dos Estados Unidos (92 milhões de pessoas) e Japão (62 milhões de pessoas).

Nos próximos anos, a tendência é que mais chineses façam parte da classe média

O Partido Comunista segue firme no propósito de transformar o consumo no principal motor de crescimento e tem procurado acelerar a urbanização e remunerar melhor os trabalhadores. Em 2015, houve um aumento de 7,4% nos salários, em termos reais.

De acordo com estudo da consultoria Boston Consulting Group (BCG), em 2020 o consumo privado da China deve chegar a US$ 6,5 trilhões, um forte salto se comparado aos US$ 4,2 trilhões atingidos em 2015. A BCG estima que o aumento deve se concretizar mesmo se o crescimento anual do PIB chinês recuar para 5,5%.

Com o incremento da renda, a China começa a deixar para trás os baixíssimos custos de produção e mão de obra barata que lhe renderam a fama de “fábrica do mundo”. Muitas multinacionais estão deixando de produzir no país por não ser mais tão vantajoso.

Além disso, a classe média urbana chinesa passa a consumir produtos e serviços até então impensáveis e está disposta, inclusive, a pagar mais caro por eles. Essa mudança no comportamento do chinês tende a atrair exportadores para o país. Entrar com sucesso na China pode, entre outros fatores, representar ganho de escala, de competitividade e aumentar significativamente o faturamento do negócio.

No entanto, conquistar os chineses não é tarefa simples. Há inúmeros desafios que vão muito além das barreiras culturais. Quem decide se aventurar na China precisa estar preparado para superar diversos entraves. Caso contrário, não sobreviverá. Os chineses gostam de experimentar novidades, mas são pouco fiéis às marcas. Quando o produto cai no gosto do consumidor, o risco de falsificação é enorme e, na maioria das vezes, há pouco controle para barrar a pirataria. Dependendo do tipo de negócio, a escassez de mão de obra local qualificada também é um problema. É preciso ainda ter em mente que grande parte da economia chinesa segue fechada para uma completa participação estrangeira.

Por todos esses motivos, antes de vender produtos e serviços na China o recomendável é que a empresa já tenha uma experiência prévia com exportação. Na maioria dos casos, o empreendedor inexperiente no comércio internacional não está preparado para lidar com as inúmeras particularidades do país. Até o sucesso deve ser previsto. Se o negócio dá muito certo e a empresa não se planeja para essa hipótese, ela pode não ter capacidade produtiva para atender a demanda e vir a morrer de êxito.

Por isso, é fundamental fazer um estudo minucioso de mercado e ter em mente que, devido a extensão do território – e diferença económica e cultural entre as regiões –, a China é, na verdade, vários países dentro de um. Não adaptar o produto e não pensar em uma estratégia de marketing exclusiva, que leve em conta as particularidades de cada região, é um dos principais erros de quem resolve exportar para o gigante asiático. Vender o mesmo produto da mesma forma para as diferentes províncias chinesas aumenta a chance de fracasso.

Por outro lado, iniciar o processo de entrada por Xangai ou Hong Kong pode ajudar a reduzir riscos. Tanto Hong Kong quanto Xangai têm maior abertura e interesse pelos produtos ocidentais, além de oferecer vantagens na hora de montar o negócio. Hong Kong, por exemplo, mantém o status de porto livre, isto é, não impõe tributos aduaneiros a não ser em casos específicos, o que garante livre movimento de mercadorias.

Mesmo para os exportadores mais experientes, aconselha-se buscar um parceiro chinês que conheça a fundo o ramo de atuação da empresa. Esse parceiro pode ser um agente, um distribuidor ou até um sócio. Encontrar a pessoa certa e disposta a aceitar o desafio pode ser demorado e trabalhoso, mas ajudará na implementação do empreendimento.

Por fim, é fundamental estar atento às subtilezas culturais, um fator que se não for levado em conta pode colocar o negócio a perder. Cumprimentar com abraço, aperto de mão forte ou beijo no rosto deixa os chineses um tanto desconfortáveis. Se o objetivo for se consolidar no país, é preciso investir desde o princípio em relação pessoal.

Na China, retribuir convites, comparecer a compromissos sociais quando chamado e contar fatos da família são sinais de cordialidade e confiança, o que costuma ser levado muito em conta por eles na hora de fechar negócios.