O futuro das geociências: incêndios florestais, recursos e alterações climáticas em discussão em Viena

O investigador português António Ferreira participa da maior conferência europeia de geociências, a EGU – European Geosciences Union General Assembly, que decorre de 8 a 13 de Abril em Viena, Áustria.

A EGU é a principal união de geociências europeia, desenvolvendo estudos a nível mundial e criando publicações científicas com relevância internacional. Na conferência na capital austríaca, que acontece anualmente e atrai mais de 14 000 cientistas e investigadores de todo o mundo, alguns dos temas do momento são o clima, a energia e os recursos.

EGU 2018 - Antonio Ferreira (c) Rita Guerreiro

António José Dinis Ferreira é coordenador Científico do CERNAS – Centro de Estudos de Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade desde 2013. É também coordenador do Curso de Mestrado em Gestão Ambiental na Escola Superior Agrária de Coimbra / Instituto Politécnico de Coimbra. Apresentou vários trabalhos sobre o tema dos incêndios e alterações climáticas em Portugal durante a semana e foi ontem um dos quatro oradores na conferência de imprensa “Shape of Things to Come? The 2017 Wildfire Season”, juntamente com David Peterson (EUA), Andreas Stohl (Noruega) e Etienne Tourigny (Espanha) (na imagem, António Ferreira encontra-se da segunda posição a contar da direita)

Em foco esteve o cenário catastrófico provocado pelos incêndios de 2017 a nível internacional. Não só os fogos que devastaram a maior área de sempre dos últimos 10 anos em Portugal e causaram mais de 100 mortos, mas também os incêndios de grandes proporções que fustigaram os EUA, nomeadamente a California, que sofreu a mais destrutiva onda de fogo de que há memória, registando 43 mortos. Em debate estiveram ainda os incêndios de considerável dimensão que deflagaram na Gronelândia e que, juntamente com as alterações climáticas dos últimos anos, contribuem para uma preocupante diminução da camada de gelo na região.

António Ferreira definiu 2017 como um ano particularmente trágico para Portugal, com incêndios florestais de proporções nunca antes vistas. Fruto da combinação entre a seca extrema na região centro do país e a passagem de um ciclone tropical que produziu ventos muito fortes e quentes, estes incêndios resultaram em 200 000 hectares ardidos em apenas dois dias, superando as piores expectativas. Referiu ainda que tais acontecimentos podem vir a ser mais frequentes no futuro.

Não faltou a típica discussão em torno das medidas que os países devem adoptar para melhor combaterem os incêndios e se adaptararem às constantes mudanças dos seus padrões. António Ferreira mencionou a urgência em criar novas estratégias para reduzir o risco de incêndios e conseguir um território mais adaptado ao clima. Falou da importância do aumento da diversidade florestal e económica das regiões afectadas, bem como uma melhor educação para a preservação das florestas e zonas de risco, a prevenção e o combate aos fogos.

No último dia da conferência, António Ferreira fará ainda uma apresentação sobre o tema dos incêndios em Portugal, onde irá discutir a necessidade de implementação de medidas concretas e prementes para prevenir futuras catástrofes e lidar com as alterações climáticas no país.

Entrada EGU 2018 (c) Rita Guerreiro

Este texto, que está escrito segundo o antigo acordo ortográfico, e respetivas imagens foram-nos gentilmente cedidos por Rita Guerreiro, da Associação Berlinda que esteve presente na conferência e não deixou de partilhar a foto da placa Aristides de Sousa Mendes Promenade referindo ser “uma curiosidade, que não deixa de ser interessante para um português que vem a esta conferência na capital austríaca e se depara com tão simpática homenagem ao diplomata português 🙂 Creio que muitos não saberão que existe…”