A Câmara Municipal de Viana do Castelo lamentou esta terça-feira a morte, aos 92 anos, do fotógrafo Gérald Bloncourt, galardoado pela autarquia em 2017 com o título de Cidadão do Honra da capital do Alto Minho.

A notícia vem publicada na página web da RÁDIO ALTO MINHO. O fotógrafo morreu esta segunda-feira e o funeral está previsto para o próximo dia 5 de novembro a partir das 14:30 horas locais (menos uma hora em Lisboa), no cemitério Père Lachaise, em Paris.

O fotojornalista Gérald Bloncourt era também pintor e poeta. Mas foi como fotógrafo, e para Portugal em particular como retratista das crianças dos bidonvilles, os bairros de lata parisienses recheados de emigrantes portugueses e das suas histórias, que se distinguiu. Morreu segunda-feira, em Paris, a cidade que o acolheu depois de ter nascido no Haiti, revela a notícia do PÚBLICO

Presidente da República recorda fotógrafo francês Gérald Bloncourt

Marcelo Rebelo de Sousa recorda Gérard Bloncourt numa mensagem de condolências publicada na página oficial da Presidência da República: “Ao tomar conhecimento da morte de Gérald Bloncourt há um dever de memória em evocar o seu trabalho, que imortalizou a história da emigração portuguesa em França nas décadas de 60 e 70. O fotógrafo francês foi uma das testemunhas do duro quotidiano dos compatriotas que viveram os primeiros anos da maior vaga de emigração para França, sendo simultaneamente amigo e companheiro de tantos portugueses que ali construíram o seu futuro. Isso mesmo testemunhei em Champigny-sur-Marne, por altura das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em 10 de junho de 2016, reconhecendo o seu espírito de missão pela defesa da dignidade humana junto da comunidade portuguesa, com o grau de Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique. À sua família expresso as minhas sentidas condolências. ”

Condolências do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas

Mensagem de José Luís Carneiro. “Com o falecimento do fotógrafo, artista e escritor Gérald Bloncourt, perde-se uma das maiores testemunhas da história da emigração portuguesa do século XX, em particular do fluxo migratório para França. O percurso de vida deste cidadão nascido no Haiti, e radicado em França, traduz um invulgar espírito de missão, patente no modo apaixonado como registou, através da fotografia, o quotidiano das comunidades portuguesas que viviam em duras condições a experiência da emigração. Gérald Bloncourt colocou-se no lugar dos que partiam em busca de liberdade e de uma vida melhor. Acompanhou os Portugueses e colocou, até, a sua segurança em risco, nomeadamente quando registou a emigração “a salto” nas fronteiras portuguesas. Tive a oportunidade de o conhecer pessoalmente e de ouvir relatos impressivos sobre as enormes dificuldades vividas nas décadas de 1950, 1960 e 1970 pelos nossos concidadãos. Nas conversas que tivemos pude sempre escutar palavras de apreço e de admiração para com as qualidades humanas dos Portugueses. Mas aqueles foram, também, diálogos marcados pela alegria, quando conversamos acerca dos anos da Revolução democrática em Portugal, que Gérald Bloncourt pôde também acompanhar. O espírito humanista, solidário e a amizade que Gérald Bloncourt nutria pelos Portugueses e por Portugal, aliados ao importante trabalho realizado, transformam  o seu falecimento num momento de perda e de pesar nas Comunidades portuguesas. A sua obra ficará imortalizada, revelando-se um aliado indispensável para qualquer registo documental, ou para qualquer entidade ou instituição museológica, que tenha como missão narrar a história da emigração portuguesa, em concreto o período de enorme importância compreendido pelas décadas de 1950-1970. À família e amigos de Gérald Bloncourt, as minhas sinceras condolências.”

O percurso de Gérald Bloncourt está ligado ao imaginário colectivo da emigração portuguesa em França

Nas décadas de 1950 a 70, depois de ter abandonado o país onde nasceu em 1926 de mãe francesa e pai de Guadalupe, o fotojornalista registou vários momentos e fenómenos-chave da vida portuguesa, da emigração ilegal ao quotidiano do regime de Salazar e, depois, da vida pós-revolução. Gérald Bloncourt regressou à actualidade portuguesa na última década, quando uma sucessão de livros, filmes, projectos e exposições recuperou a memória – por vezes dolorosa – do seu trabalho sobre a realidade do Portugal do século XX.

Em 2016, Gérald Bloncourt foi condecorado com a ordem de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e a ministra da Cultura, Graça Fonseca, descrevia-o segunda-feira à noite como um “fotógrafo comprometido, militante humanista e poeta do quotidiano, dono de uma sensibilidade que incomodava pela franqueza”, recordando como acompanhou, “entre 1954 e 1974, as gerações de portugueses que fugiam de um país em ditadura”.

Numa nota enviada às redacções, Graça Fonseca qualificava como “o percurso do fotógrafo Gérald Bloncourt está ligado ao imaginário colectivo da emigração portuguesa em França”. Descrevendo o seu “gesto marcado pela objectividade, como é o dos grandes fotógrafos”, a ministra considera que Bloncourt “contou a história silenciada, envergonhada e escondida de um país fechado sobre si próprio”, dando a conhecer “as duras condições de vida de gerações que a ditadura obrigou a partir e que procuravam na periferia parisiense melhores condições de vida”.