Uma portuguesa no Dia Internacional da Mulher em Prishtina, Kosovo

CristinaMadureira-fotoChamo-me Cristina. Sou açoriana, portuguesa, cidadã do mundo e do universo, não particularmente por esta ordem. Não me lembro de dar importância ao Dia Internacional da Mulher enquanto passei a minha vida nos Açores. Não dou particular atenção a dias específicos e datas marcadas. Aliás, sou do pior no que se refere a lembrar datas. Se não fosse a ampla divulgação (por vezes, exagerada campanha de alguns dias, apenas para fins comerciais) nunca me viria à cabeça certas datas. Hoje é um desses dias que sei existir no calendário porque ele me aponta. Não significa isto que não lhes reconheça importância, significado e sentido.  Apenas, para mim, por ser mulher, todos os dias são dia da Mulher, tal como todos os dias são dias do homem, por ele ser Homem.

Dizia que, enquanto vivi nas ilhas de bruma revestidas de encantos, felizmente estive longe, como a maioria das mulheres no nosso país, de realidades que ainda tornam imperativo ao calendário ter este dia. Realidades como a violência doméstica, o casamento em tenra idade, a violação, entre outras, que nos envergonham e que gritam por solução urgente e eficaz.

Há cerca de 4 anos vim viver para Prishtina, capital do Kosovo. Aqui, o meu quadro cultural e conceptual necessitou ajustar-se a novos ‘mundos’ e novas realidades. Aqui, vim encontrar apenas mais uma amiga, diria quase familiar, portuguesa. Tão somente, éramos as duas únicas mulheres portuguesas por estas terras (que eu tenha conhecimento e à excepção das que fazem parte dos batalhões militares portugueses cá destacados). Uma a suportar a outra. Uma a incitar a outra para fazer jantares para os restantes portugueses, com os típicos pratos portugueses, naturalmente.  Uma a convidar a outra para ‘dois dedos de conversa’ no café, em português, como deve ser. Uma a apoiar a outra para que a cabeça e o coração não quebrasse. Com ela a palavra saudade não foi tão dura, nem tão suave. Com ela, ser mulher e portuguesa no Kosovo foi, certamente, mais fácil.

Por outro lado, em Prishtina vim encontrar uma grande comunidade internacional e nessa medida tenho o privilégio de me relacionar com mulheres de muitos cantos do mundo, com tradições e culturas muito diferentes da nossa. Entre elas, não só fiz múltiplas e enriquecedoras amizades como descobri que partilhamos, apesar das diferenças visíveis aos olhos, um fio invisível de comum natureza. Há algo que une todas as mulheres e que escapa a palavras ou a conceptualizações. Há algo que une todas as mulheres e que é da ordem do vivido e do sentido: uma força inabalável e uma vulnerabilidade delicada; uma coragem medida e um medo desmedido; um sentir exagerado e um sentir leve… nos olhares e testemunhos das mulheres internacionais da minha vida em Prishtina confirmei o facto que, na essência, somos todas mulheres do mundo, carregamos o mundo nos ombros, precisamos umas das outras para aliviar o peso desse mundo, processamos dor, sofrimento, desvelamos alegria, reconhecimento e ainda necessitamos de dias como o de hoje para marcar o que jamais deveríamos precisar marcar.

Curiosamente, em Prishtina, o dia de hoje coincide também com a celebração do Dia da Mãe e com o dia do Professor. Portanto, é um grande dia! Um dia em que se celebra a honra de ser Mulher. Ser mulher em casa, ser mulher no trabalho, ser mulher na família, ser mulher na sociedade… em que se destaca o papel que ela tem no mundo, se fala das dores e das feridas, se aponta desigualdades, o que ainda há a conquistar e se tenta perspectivar futuro. Mas, aqui, hoje é também dia da mulher Mãe, dia em que a linguagem dos filhos fala mais alto e os olhos rasam lágrimas de amor, num abraço imenso e profundo, cheio de doçura por tudo. Assistir a um espectáculo de gestos preparado pelos filhos para as mães de tantos cantos do mundo, neste dia em que todas as mulheres, independentemente da cor, da raça, da cultura ou do credo, se tocam em sinais exteriores mas sobretudo interiores, é deveras arrebatador. Um privilégio sem medida. Além disso, celebrar o dia do Professor no mesmo dia da Mãe é reconhecer que ambos, embora em níveis diferentes, têm esta particular missão de ‘trazer à luz’ o melhor dos nossos filhos, das nossas crianças.

Bem-haja a todas as Mulheres!

Bem-haja a todas as Mães!

Bem-haja a todos os Professores!