É com muito gosto que inicio esta coluna regular na “Diáspora Lusa”, órgão de comunicação social que privilegia o relacionamento com todos quantos falam e escrevem em língua portuguesa.
Desde logo, tendo como destinatários os portugueses e os luso descendentes espalhados pelo mundo.
Importa registar e sublinhar que a língua portuguesa é o resultado secular de encontros de culturas com outros povos e países que também a adotaram, a partir do galaico-português.
No mundo de hoje, globalizado, a língua portuguesa é um instrumento privilegiado de comunicação e também um poderoso instrumento económico.
Ela é a quarta ou quinta língua mais falada do mundo, a primeira do Atlântico Sul e uma das que é mais recorrentemente utilizada nas redes sociais, facto da maior relevância tendo em atenção o peso que hoje as plataformas digitais atingiram.
A tudo isto acresce que as independências dos territórios africanos e de Timor-Leste, que adotaram o português como língua oficial, fizeram-na crescer ainda mais.
De tal forma que, segundo estudos da ONU, o primeiro país de língua oficial portuguesa mais populoso no final deste século será Angola, tendo em atenção o crescimento demográfico deste país, superior ao crescimento demográfico que ocorrerá no Brasil.
Os países de língua oficial portuguesa têm por fronteira comum o mar e este tem riquezas económicas importantíssimas, como o petróleo, minerais (ouro, prata, cobre, ferro, zinco, em altas concentrações) fontes farmacológicas, o sal, a energia elétrica etc., sem falar do relacionamento com outros povos e países com portos de entrada e saída para todo o mundo.
No ano em que se celebra a passagem do 500ª Aniversário do nascimento de Luís de Camões, que de forma tão genial nos deixou o legado dos “Lusíadas “e toda a poesia lírica, fiz questão, neste meu primeiro artigo para a Diáspora Lusa”, de invocar a língua portuguesa e a dimensão que ela atingiu em todo o mundo.
Esta invocação é uma homenagem devida a todos os portugueses e lusodescendentes espalhados pelos quatro cantos do mundo, enaltecendo, através do trabalho na diáspora, a dimensão, a importância e o significado da língua portuguesa.
Mas é também o devido reconhecimento aos povos dos países hoje independente que a adotaram como sua, também eles cidadãos do mundo, com diásporas diversas, e que hoje engrandecem a língua comum.
Esse agradecimento reflete a plasticidade da língua portuguesa, hoje com novos vocábulos e formas diferenciadas de expressão, mas sempre com o mesmo tronco comum. A língua portuguesa tem hoje, para além da pujança em si mesma, intérpretes mundiais de referência incontornáveis na música e em todas todas as formas de expressão literária.
Por isso, não admira que, há escassos anos, Saramago fosse homenageado com o Nobel da Literatura. Outros grandes escritores dos demais países de língua portuguesa poderiam ter sido beneficiários desse prémio, com inteiro merecimento.
Como escreveu Fernando Pessoa no Livro do Desassossego, “A minha pátria é a língua portuguesa”.
Lembrá-lo é evocar Camões no seu 500º aniversário do nascimento e com eles todos os cidadãos que a têm a língua portuguesa como sua.
Lusofonia por Vítor Ramalho
(ex-Secretário-geral da UCCLA)
Imagem | Luiz de Camões par Legrand, C., fl. 1839-1847 – 1841 – National Library of Portugal, Portugal – Public Domain.