Quando, no dia 30 de setembro de 2012, embarquei em direção à Suíça, com destino final Doha, no Qatar, a minha vida mudou por completo. Essa decisão trouxe consigo todos os prós e contras que uma mudança desta dimensão inevitavelmente acarreta, especialmente a nível pessoal. Contudo, hoje o meu foco não será esse. Quero partilhar a minha perspetiva sobre o que significa viver no Médio Oriente e, em particular, no Qatar.

Viver no Médio Oriente pode ser uma experiência transformadora. O Qatar, por exemplo, combina segurança, modernização e sofisticação
com a rica cultura árabe e muçulmana, criando um multiculturalismo único. O contraste entre a tradição e os valores ocidentais é
evidente em todos os aspetos da vida quotidiana. E, claro, a ausência de impostos sobre o rendimento individual torna esta região atrativa do
ponto de vista financeiro.

Nos últimos 12 anos, o Qatar tem sido um exemplo de crescimento. Apesar dos desafios globais, como a pandemia de COVID-19, o país continuou a atrair profissionais altamente qualificados de todo o mundo. O fundo soberano do Qatar (QIA), com os seus vastos recursos financeiros e diversificação, sustenta grande parte da economia local. O país também tem investido massivamente na modernização, destacando-se pela excelência da sua companhia aérea, pela organização do Mundial de Futebol de 2022 — que acelerou o desenvolvimento de infraestruturas — e por receber eventos de renome como Fórmula 1, MotoGP e conferências tecnológicas e de investimento. Tudo isto faz do Qatar uma escolha digna de consideração para quem pensa em emigrar.

PONTOS NEGATIVOS

É importante considerar os desafios associados à vida no Médio Oriente. A burocracia, por exemplo, ainda é notoriamente lenta em processos como a contratação de talentos, algo menos evidente em lugares como o Dubai, que têm um ambiente mais ágil e atrativo para investidores estrangeiros. Além disso, as discrepâncias entre classes sociais e as limitações às liberdades individuais podem ser um choque para quem não tem maturidade ou experiência suficiente para lidar com essas realidades.

O clima é outro fator crucial. Durante os meses de verão, as temperaturas podem tornar-se extremamente severas, não apenas no Qatar, mas em toda a região do Golfo, especialmente no Kuwait e na Arábia Saudita. Apesar das mudanças sociais que têm tornado a região menos conservadora nos últimos anos, alguns locais ainda preservam restrições culturais que podem dificultar a adaptação.

Do ponto de vista político, o Médio Oriente pode ser imprevisível. Mudanças abruptas nas dinâmicas políticas e tensões regionais são realidades que exigem acompanhamento constante e capacidade de adaptação.

PONTOS POSITIVOS

Por outro lado, os benefícios são significativos. A região oferece regimes fiscais vantajosos, tanto a nível individual como para negócios. A segurança é elevada, e a oportunidade de vivenciar uma
cultura rica e diversa é uma experiência enriquecedora. Além disso, as companhias aéreas da região funcionam como hubs globais, facilitando viagens para destinos incríveis com uma conectividade incomparável.

CONCLUSÃO

Para quem considera emigrar, o Médio Oriente pode ser uma escolha fascinante. É uma oportunidade para vivenciar uma realidade multicultural, desenvolver-se profissional e pessoalmente e usufruir de um estilo de vida diferente daquele encontrado na Europa, particularmente em Portugal. No entanto, é essencial fazer uma pesquisa detalhada sobre o custo de vida antes de tomar qualquer decisão, especialmente porque este pode variar significativamente na região. Para quem procura um estilo de vida mais ocidental e independente, é altamente recomendável obter aconselhamento prévio.

Viver no Médio Oriente é um processo contínuo de aprendizagem e adaptação. Cada dia traz desafios novos, mas também oportunidades que, inevitavelmente, nos tornam mais resilientes, mais abertos ao mundo e, sem duvida, melhores.

 

Correspondente João Camarão