Em entrevista à Diáspora Lusa Magazine, o Embaixador de Portugal na África do Sul, José da Costa Pereira, destaca a integração da comunidade portuguesa na sociedade sul africana e o seu importante papel para as relações bilaterais entre Portugal e a África do Sul.

Em traços gerais, como descreve a comunidade portuguesa radicada na África do Sul?

Tanto quanto posso aferir, creio que a comunidade está bem integrada no país anfitrião, com um grau de prosperidade muito razoável. Subsistem, porém, alguns casos de pobreza e abandono familiar que, não sendo estatisticamente relevantes, são humanamente importantes. Noto com satisfação que a comunidade se mobiliza para ações de solidariedade, complementando os apoios que o Estado português procura conceder a quem diretamente ajuda os necessitados.

Quais os símbolos da Portugalidade mais destacados pelos sul-africanos na atualidade?

Portugal é visto pelos sul-africanos mais pela realidade do que pelos símbolos. E o Portugal que imaginam é um país seguro, acolhedor, cosmopolita e com as infraestruturas necessárias para uma vida tranquila e próspera, daí a vontade de alguns deles para lá irem viver e investir. Naturalmente se perguntar a um amante de futebol – aqui não tão popular como em outras latitudes – ele saberá identificar Cristiano Ronaldo como português. A outros níveis, há quem elogie a nossa gastronomia, há quem tenha apreço pelo nosso trabalho em matéria de energias renováveis, há quem aprecie os nossos esforços para tornar o nosso país um hub tecnológico importante.

Como avalia a vitalidade das associações criadas e dinamizadas pela comunidade portuguesa, na África do Sul?

Não tenho de avaliar. Elas serão o que as pessoas quiserem que elas sejam, não há lugar para nenhum paternalismo intrusivo da parte da embaixada. O movimento associativo, não representando a totalidade da comunidade, é um elemento ativo e importantíssimo no registo da memória coletiva e da difusão da língua que são parte essencial da nossa identidade. Por isso o apoiamos e queremos que ele se mantenha dinâmico e atuante.

O ensino da Língua Portuguesa, principalmente aos Lusodescendentes (2ª e 3ª geração), é um fator de ligação á cultura portuguesa e de aproximação às suas raízes de origem. Como avalia o Ensino do Português na África do Sul?

Temos um bom leque de opções e um trabalho bem feito pelo Instituto Camões, quer no ensino básico e secundário, quer no universitário, mas ninguém vai ficar à sombra de uma árvore a regozijar-se com o sucedido, queremos crescer nos intercâmbios de estudantes e professores, há um caminho que queremos continuar a percorrer. O maior desafio que temos neste momento é adaptar a oferta à procura, isto é, temos tido algumas dificuldades em recrutar professores. A médio prazo, estamos a apostar na formação local como forma de erradicar o problema. Noto ainda que, temos conseguido trazer o ensino do português para fora do casulo exclusivo dos filhos da comunidade, o que me apraz registar, no contexto da defesa da nossa língua como língua internacional.

Foi criado pelo Governo português o “Programa Regressar “com o objetivo de atrair o regresso dos Portugueses da Diáspora. Como avalia para a comunidade portuguesa na África do Sul este programa? Verifica-se o desejo de regressar a Portugal?

Não disponho de dados, os números que vi incluem a África do Sul numa designação mais geral que agrupa uma série de países diferentes. Isto significa que não consta por assim dizer dos grandes “mercados” de potenciais retornos. O que se compreende, esta é uma comunidade antiga que está aqui bem instalada e, portanto, pode admitir viajar, investir e até comprar uma segunda residência de férias em Portugal, mas não tem intenções de abandonar a África do Sul. É verdade que alguns jovens saem por razões que têm de ver com o país anfitrião. Nesses casos procuram geralmente outros destinos como a Austrália, o Canadá ou os Estados Unidos.

Quais são as variações mais recentes no fluxo migratório de Portugal para a África do Sul?

As variações são nulas, basicamente ninguém emigra de Portugal para a África do Sul exceto episodicamente quadros de empresas.

Por que setores de atividade se distribuem os portugueses na economia sul-africana?

Estamos precisamente a tentar ter um retrato mais fiel do que é a comunidade num projeto de identificação de carências que espero que venha a chegar a bom porto. De forma meramente impressionista, vejo uma particular propensão para a comunidade se dedicar ao comércio retalhista, à pesca, à agricultura e à indústria da construção civil, sem prejuízo de outras áreas que podem ir das profissões liberais a quadros superiores de empresas, passando pela mecânica automóvel ou a indústria pesada. No fim de contas, nenhum setor lhe está vedado.

Para além de contribuírem para o crescimento da economia sul-africana, a comunidade portuguesa é o maior embaixador da imagem de Portugal.  Pensa que são um ativo importante nas trocas comerciais e culturais entre os nossos países?

Claro que sim, são uma base importante para estimular os contactos entre pessoas, tão ou mais importantes que os intercâmbios político-administrativos. A boa imagem que Portugal usufrui na África do Sul não é dissociável da presença lusitana nestas paragens e da familiaridade que os sul-africanos adquiriram no contacto com a nossa comunidade. Da mesma forma, os empresários de origem portuguesa são quem melhor pode demonstrar a potenciais investidores vindos de Portugal, a exequibilidade de se fazer negócios aqui. Constituem, pois, um ativo que muito ajuda os esforços da embaixada e dos consulados em promover ume relação comercial sadia e dinâmica entre os dois países.

José da Costa Pereira in Diáspora Lusa Magazine 8