No sábado, 20 de abril de 2024, no restaurante “El Fogón de Camacha”, situado na freguesia de El Junquito, a noroeste da cidade de Caracas, o grupo musical Madragoa estreou-se em palco com uma tarde de fados com as canções mais emblemáticas de Amália Rodrigues, Carlos do Carmo, Zeca Afonso, entre outros.

Recentemente este grupo de Fados formado pelas vozes Andrea Freitas e António Reis, na Guitarra Portuguesa Sérgio Correia Branco e na Guitarra Clássica José De Abreu, actuou no 50º aniversário da Revolução dos Cravos organizado pelo Instituto Português de Cultura em Caracas na passada quinta-feira dia 25 de abril deste ano.

 

Motivação para criar um grupo de fado na Venezuela

Segundo o fundador da Madragoa, Sérgio Correia Branco, as motivações foram várias, e na verdade tudo começou com a sua aprendizagem da guitarra portuguesa, a curiosidade de explorar e aprender este instrumento tão representativo da cultura portuguesa.

“Particularmente, não conseguia entender ou aceitar que na Venezuela, um país com uma comunidade portuguesa tão grande e tão apaixonada pelo género do fado, houvesse apenas um punhado de gruitarristas. Para além dos falecidos Evaristo Vilela e António Pires, no estado de Aragua, não há mais nenhum guitarrista português conhecido na nossa comunidade luso-venezuelana e, por isso, era muito difícil para os fadistas tocarem o fado na sua forma tradicional”, acrescentou.

“Por isso, desde o momento em que comecei a tocar guitarra portuguesa, o meu objetivo foi sempre o de formar um novo grupo de fado na Venezuela e tentar preencher a lacuna deixada por outros grupos que foram representativos no seu tempo e de onde saíram grandes expoentes do fado neste país, como “Caravela da Saudade”, por exemplo” – assegurou.

Correia Branco nasceu na Camacha, Ilha da Madeira, mas emigrou com os seus pais para a Venezuela muito cedo. No campo da música tradicional portuguesa foi diretor musical do Grupo Folclórico Alma Lusitana de Caracas, e mais tarde instrumentista da Associação Cultural Grupo Folclórico Os Lusíadas, tocando acordeão e a concertina, além de dar apoio como instrumentista a vários grupos folclóricos luso-venezuelanos em festivais e actuações particulares.

É professor de música a tempo parcial e atualmente lecciona Acordeão, Concertina e Iniciação à Guitarra Portuguesa no Centro Português de Caracas. É autor do livro “Los Instrumentos en la Música Tradicional Portuguesa”.

A sua vez, José de Abreu é luso-descendente, filho de emigrantes madeirenses, e começou a tocar música por volta dos 12 anos de idade. Integrou diferentes grupos musicais tocando guitarra clássica, guitarra eléctrica e baixo, entre os quais: Conjunto Pai e Filhos, com Virgilio de Gois, Grupo Folclórico do Centro Português de Caracas, Grupo Folclórico Pérola do Atlântico, Grupo Musical Quinta Escala, Grupo Musical Xenón, Grupo Musical Nossa Gente e Grupo de Gaitas “Portugaitas” do Centro Português de Caracas.

De Abreu caracteriza-se por ser um grande entusiasta do Fado. Teve inclusivamente a oportunidade de tocar acompanhando excelentes guitarristas portugueses que visitaram o país por ocasião de concertos de Fado na Venezuela, como Ricardo Martins e Pedro de Castro, experiências que, sem dúvida, enriqueceram o seu conhecimento e gosto pelo género fadista, e que agora trará para a Madragoa.

De igual modo, Andrea Freitas Melo é uma fadista amadora nascida e residente em Caracas, filha de emigrantes portugueses de Espinho, Distrito de Aveiro, desde criança que aprecia tudo o que se relaciona com a cultura portuguesa, mas com especial destaque para o Fado no seu estilo mais tradicional.

Devido ao facto de a língua portuguesa ter estado sempre enraizada em sua casa juntamente com a língua espanhola, tornou-se mais natural para ela compreender o significado e o sentimento transmitido pelos fados que ouvia.

Teve aulas de fado com a fadista Celeste Moreira e aulas de canto na Academia de Mayré Martínez. Para além disso, teve aulas de guitarra portuguesa com Sérgio Correia Branco, e foi através deste último que foi convidada a integrar o grupo Madragoa como fadista.

“O que me move e me anima a fazer parte deste projeto é a possibilidade de retomar e dar continuidade a um legado musical muito apreciado, sobretudo sendo do estilo tradicional que tanto amo e que se está a perder na Venezuela” – expressou Freitas Melo.

O recém-incorporado António Reis, natural de Santa Maria da Feira, Distrito de Aveiro e já perto dos quarenta anos radicado na Venezuela, é um cantor com uma vasta trajetória no folclore português e um dos pioneiros na interpretação do Fado na Venezuela, que desde há várias décadas tem estado presente no panorama cultural luso-venezuelano, encantando com uma voz de prestígio.

Fez parte do grupo de fado “Caravela da Saudade” juntamente com o falecido guitarrista Evaristo Vilela. Também cantou com “Guitarras de Lisboa”, além de participar como convidado em noites de fado e em diversos eventos e cerimónias da comunidade portuguesa, colectividades e instituições na Venezuela.

Foi fundador do Grupo Musical “Melodías de Sempre”, e no âmbito do folclore português foi cantor do Grupo Folclórico do Centro Luso de Turumo, do Grupo Folclórico “Dos Patrias” e atualmente do Grupo Folclórico da Associação Cultural “Os Lusíadas” da cidade de Caracas.

Surgimento do nome Madragoa

Este grupo procurava um nome que evocasse o fado, as suas origens e a cidade de Lisboa; pensaram nos nomes dos bairros populares lisboetas onde o género fado surgiu e se desenvolveu: Alfama, Mouraria, Graça, Guía, Bica, Lumiar, entre outros.

Segundo Sérgio Correia Branco, foi ele que pensou no nome Madragoa, um dos bairros populares mais antigos de Lisboa, que deve o seu nome à existência do antigo Convento das “Mães de Goa”, datado do século XVI, onde se formaram as freiras que mais tarde apoiariam o processo de evangelização e assistência aos necessitados na colónia de Goa, na Índia Portuguesa.

 

O Futuro

Os planos de Madragoa passam por mostrar e divulgar o Fado na sua forma mais tradicional para gáudio da comunidade luso-venezuelana, e também para o dar a conhecer para além dos emigrantes portugueses e seus descendentes portugueses. A sociedade venezuelana tem sido agradavelmente percepcionada ao descobrir a sonoridade única do Fado, pelo que a Madragoa aspira de alguma forma a contribuir para multiplicar essa experiência.

Um dos objectivos do Grupo Madragoa é promover e massificar o ensino da guitarra portuguesa na comunidade luso-venezuelana e assim multiplicar o número de intérpretes para garantir a continuidade do Fado na Venezuela.

O Madragoa já tem propostas ou manifestações de intenção de alguns restaurantes para realizar noites de fado em toda a geografia de Caracas e aspira a visitar outras cidades venezuelanas. A próxima apresentação do Madragoa Grupo de Fados terá lugar no sábado, 18 de maio, às 21h00, no Restaurante Grille Macaracuay, em Caracas, um dos restaurantes mais especializados em gastronomia portuguesa na Venezuela.

Marcos Ramos Jardim