O Conselho Regional das Comunidades Portuguesas na Europa (CRCPE) considera que “a fraca cooperação económica entre os empresários de Portugal e da diáspora” se deve à imagem que os portugueses têm dos emigrantes, “alimentada por preconceitos”.
“Essa imagem terá de evoluir para que Portugal possa rentabilizar a vantagem de contar com a presença de compatriotas nos quatro cantos do mundo”, defende o conselho.
Apesar de almejar que as comunidades portuguesas “encarem o desafio de criar novas relações com Portugal, com o objetivo de apoiar o país num processo de crescimento económico”, o CRCPE alega que “os emigrantes têm hoje o sentimento de serem rejeitados pela sociedade portuguesa”.
“A relação com a mãe pátria é ambígua: se não há dúvidas que os portugueses residentes no estrangeiro têm um orgulho afirmado em relação à nação portuguesa, existe, todavia, desprezo em relação ao Estado português”, prossegue-se no documento.
O conselho propõe, como forma de divulgar “o novo rosto das comunidades portuguesas e o papel que desenvolvem atualmente nos setores económico, cultural ou ainda político”, a inclusão da RTPI na plataforma gratuita da televisão digital terrestre.
Para o CRCPE, “a melhoria das imagens recíprocas também passa por uma melhor relação entre a diáspora e o Estado português”.
E questiona: “Com que legitimidade o Estado pode pedir às comunidades portuguesas uma maior cooperação se estes últimos nutrem relações tensas com a figura do Estado por causa dos cortes orçamentais que se verificaram nos últimos 10 anos na rede consular e na rede oficial do Ensino Português no Estrangeiro (EPE)”.
Ressalva, contudo, algumas melhorias, como “a implementação do recenseamento automático no estrangeiro ou a celebração do 10 de Junho (Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades) junto da diáspora, nos últimos anos.
“São muitos os assuntos em que o país deverá debruçar-se para poder se reencontrar com a sua diáspora de forma a potenciar cooperações em domínios chave e assim reforçar o ´soft power`, nacional através da sua rede multinacional portuguesa”, refere-se no documento.
O CRCPE acrescenta “o registo da dificuldade em encontrar dados sobre o contributo económico dos portugueses residentes no estrangeiro em setores como o turismo e o imobiliário ou ainda no plano fiscal”.
O relatório inclui alguns dados, como o contributo dos emigrantes em remessas, que atingiu os 217 mil milhões de euros na era democrática (a preços de 2019), valor ligeiramente superior ao PIB nacional de 2019, que ficou pelos 212 mil milhões de euros.
O relatório “O contributo e o potencial económico das Comunidades Portuguesas” vai ser apresentado em 21 de abril no Colóquio “Potencial Económico da Diáspora”, que tem por objetivo identificar e promover estudos, investigação e estatísticas que permitam conhecer melhor o contributo e potencial da diáspora portuguesa nas diversas vertentes: empresarial, turística, financeira e tributária.
Este colóquio é promovido pelo gabinete da secretária de Estado das Comunidades Portuguesas do Ministério dos Negócios Estrangeiros (SECP-MNE), em parceria com o Observatório da Emigração (ISCTE-IUL) e o Conselho Regional das Comunidades Portuguesas na Europa (CRCPE).
Portugal tem mais de 2,2 milhões de emigrantes espalhados pelo mundo. Em 2019, o Reino Unido foi o país para onde emigraram mais portugueses, com cerca de 25.000 das 80.000 saídas de Portugal nesse período, seguindo-se a Espanha e a Suíça, segundo o Observatório da Emigração.