Por: Cláudia Martins (revisão: Patrícia Lourenço)

O Estado é Pernambuco, no Brasil. É muito comum admirar a dimensão continental do Brasil e é muito fácil entendê-la usando Pernambuco como escala: aproximadamente a mesma área, sendo Portugal um quase-retângulo na vertical, Pernambuco, um quase-retângulo, horizontal. O mesmo, ainda consegue ter mais 6.000 km2 do que o território português. Para termos uma noção, o Algarve tem aproximadamente 5.000 km2.

No sertão do Estado fica Petrolina, nas margens do Rio São Francisco, carinhosamente chamado de “Velho Chico” (no próximo dia 4 de Outubro se comemoram os 518 anos de seu descobrimento). Uma região integrada no desenvolvimento econômico, que se deve ao crescimento do cenário econômico mundial e aos muitos projetos de irrigação, dedicados principalmente à fruticultura para exportação (manga, uva – vinho e mesa, – goiaba, coco, acerola). Representa um novo uso e ocupação de solos anteriormente cobertos de caatinga, uma vegetação exclusiva do Brasil, uma floresta resiliente e bela, que se estende por mais de 10% do território nacional.

Foi num dos pequenos bairros de Petrolina, que vim conhecer uma família muito querida, onde o pai é… português, claro. Completou em Dezembro de 2018 apenas um ano que nos conhecemos, apesar de morarmos a uma rua de distância – sim, a vida atual promove mais desencontros do que encontros. E, como dizia um consul português que conheci em Campinas, Estado de São Paulo, enquanto os demais emigrantes criam miniaturas dos seus países no novo país que escolheram para morar, às vezes formando guetos, “o português se dilui”.

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É com grande prazer que tenho como vizinho de vila um conterrâneo, José Coelho. Partilho com vocês alguns detalhes da vida dele, mudanças e adaptações, sempre com a determinação e a objetividade que lhe são peculiares.

Conhecido por Coelho, o português foi jogador de futebol profissional e chegou a representar as cores da seleção portuguesa em 1978. Contou com 36 internacionalizações e fez a sua primeira a 17 de Abril de 1976. Dentro dos relvados, marcou 8 golos e ocupou a posição de ponta de lança.

Nasceu a 5 de agosto de 1961 e percorreu grande parte da sua carreira profissional vestido de xadrez, a defender a camisola do Boavista. Foi durante 8 épocas, que o português deu ao clube diversas vitórias e contribuiu para o sucesso do mesmo. Contudo, esta equipa não se tornou o seu único amor. Ele representou, também, o Futebol Clube do Porto, o Estrela da Amadora, o Penafiel e o Chaves.

José Coelho ficou conhecido no mundo do futebol pela sua agilidade, rapidez e determinação.
Natural de Penafiel, hoje vive com a sua família no Brasil como empreendedor.

Fomos conhecê-lo melhor

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Cláudia – Quem é o José Coelho? Veio de que região de Portugal? Quando chegou ao Brasil? O que o trouxe e o atrai aqui?
José Coelho – Eu vim de Penafiel, norte de Portugal, de onde sou natural. Foi onde comecei a jogar futebol e me tornei o primeiro internacional da cidade.
Cheguei ao Brasil em Dezembro de 2015 com a minha família. O clima e as oportunidades de trabalho e negócio foram os aspectos que mais me atraíram. No entanto, acredito que com a ajuda do meu desejo de criança em vir para cá, tudo se tornou possível.

C – Que desafios pessoais e profissionais tem enfrentado? Quais as maiores mudanças que precisou de fazer para se adaptar ao Brasil, mais propriamente ao sertão pernambucano?
JC – Costumo dizer, que onde vamos temos de nos ambientar ao modo de vida do local e não esperar que os outros se ajustem a nós. Aqui o calor é muito o ano inteiro, mas é uma região muito peculiar pelas oportunidades de trabalho que oferece. Claro que precisei de me habituar ao jeito pernambucano de ser, menos rígido com horários e compromissos do que em Portugal. Acho que este é um desafio que tenho enfrentado, eu ter que me adaptar a esta maneira de viver e de estar.

C- O que nunca deixou de o encantar em Portugal?
JC – Portugal nunca me desencantou. Eu vim para o Brasil por escolha, não por falta dela. Vivo tão bem aqui como viveria lá. Não coloco de lado a possibilidade de um retorno.

C – Qual é hoje sua relação com o Brasil?
JC – Muito boa. Sempre fui muito bem cuidado e recebido, o que revela que a escolha de vir para cá foi a mais acertada.
Tenho no Brasil a família de minha esposa Fernanda e o meu filho luso-brasileiro. Ambos gostam de morar cá e ter parentes por perto contribui para o nosso bem estar.

C – Onde vive no Brasil? O que faz e como é conhecido na região e no seu trabalho?
JC – Vivo em Petrolina, Estado do Pernambuco. Trabalho na construção, com roça (fazenda) de coco, e mais recentemente, disponho de uma casa para eventos. Trabalho não falta e isso é ótimo. Como sou conhecido? Pelo meu nome José, mas sempre com o “português” juntinho ao nome, principalmente no meu bairro.

C – Quanto da sua vida em Portugal o Brasil conhece? E quanto de sua vida brasileira Portugal conhece?
JC – Tenho alguns amigos no Brasil que jogaram futebol comigo em Portugal e, claro, toda a família da minha esposa conhece a minha carreira de futebolista. No meu país, sou muito mais conhecido do que no Brasil. Afinal, toda a minha vida fui profissional de futebol. Joguei no Porto, Boavista, Penafiel e na seleção portuguesa. Aqui conhecem-me por José, em Portugal o meu nome profissional é Coelho.

C – Como é ser um ex-futebolista e presentemente produtor rural, português no Brasil?
JC – Quando vim para o Brasil eu já tinha uma empresa de construção em Portugal. Deixei de exercer a profissão de futebolista e cheguei cá como empresário. O que tornou a minha referência aqui, como um empreendedor e não de um ex-jogador.

C – Em algum momento pensa em “regressar às origens”?
JC – Não descarto essa possibilidade. Decidimos de um ano para o outro vir para o Brasil. O caminho inverso pode acontecer da mesma forma.

C – O que acha da frase de Manoel Bandeira “um brasileiro é um português à solta”?
JC – Concordo. O brasileiro, no geral, é mais desinibido do que o português. Acho que são mais felizes com menos – materialmente – do que nós em Portugal com mais. Parece que nos preocupamos demais com o futuro, enquanto que aqui se vive um dia de cada vez.

Obrigada, José e família, por partilhar conosco um pouco de vocês tão longe de Portugal!